sexta-feira, 6 de junho de 2014

Crônica: A vida por um fio


Acordei para mais uma segunda-feira, mais um início de semana, mais um dia como tantos outros em que costumamos achar que a vida simplesmente seguirá. Tomei banho, pedi à secretária que preparasse meu café da manhã e fui trabalhar.

O céu estava da mesma cor, tudo me parecia no seu devido lugar e, como de rotina, desejava que meu dia tivesse umas 40 horas. É assim, estamos sempre querendo que o tempo se adeque a nós, no fundo sempre pedindo que seja possível fazer o que traçamos para aquele dia, livres de qualquer culpa. 

Quanta prepotência! Quanta ignorância!

Não somos senhores do tempo, aliás, somos incapazes de prever o que irá nos acontecer no segundo seguinte àqueles pensamentos tão organizados, sem quaisquer sobressaltos. 

A vida tem seu próprio pulsar, as horas não esticam, elas apenas passam depressa, mas insistimos fingir não saber disso. No peito bate um tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum-tum... e, de repente, um silêncio literalmente mortal nos assola. A morte não pede licença, ela chega e atravessa o nosso caminho e, nesse momento, o pensamento também é interrompido, a gente paralisa, um osso de galinha surge do nada e fica entalado bem no meio da nossa garganta, tudo muda de lugar. 

Quando escutamos esse silêncio somos obrigados a aceitar que não controlamos nada e que, por isso mesmo, podemos e devemos nos permitir sonhar, nos doar por inteiro e não pela metade, brigar apenas na condição de que em seguida faremos as pazes, declarar nosso amor várias vezes até que não sejamos mais capazes de contar, sorrir com a alma, não adiar as coisas, pensar antes de agir ou falar para não magoar, se libertar dos extremos, valorizar o que é importante com a consciência de que tudo aquilo que importa de verdade é impossível de se comprar, de se medir, de se usar... 

A vida nos impõe suas próprias regras e nos coloca à prova. Surgem outras perguntas e somos obrigados a formular novas respostas. E ali, querendo ou não, teremos que lidar com essa brevidade, aceitar que a vida passa por um fio muito tênue e que o amanhã pode nunca chegar. 

Presente você é mesmo um “presente”! Quero deixar registrado aqui meus votos para contigo: Eu te recebo para amar, respeitar, aproveitar, valorizar, antes que minha saúde acabe, antes que meu dia mude de cor, antes que alguém me falte, antes que a morte me cale. 

Desde o princípio, durante e até no fim, a diferença de como será está na nossa fé e na intimidade que temos com Deus, porque se cremos nesse Deus de misericórdia e de amor, a paz independe das circunstâncias, as trevas nunca serão capazes de sobrepujar a luz e a vida na verdade não chega ao fim quando esse fio se parte, apenas se transforma para ganhar a eternidade.

“Deus provê, Deus proverá! A sua misericórdia não faltará!”.


Médica e autora do livro: Perfume de Hotel
contato@carlasgpacheco.com

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